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Apoio: http://www.novaconsciencia.com.br Na quarta reportagem da série que o Jornal Nacional apresenta nesta semana, Lúcio Alves e Marcelo Canellas mostram, nesta quinta, como a religião mudou crenças, mitos e costumes dos povos indígenas. No princípio criou Deus o céu e a terra, disse o pastor. A partir da baforada da fumaça do cigarro do avô do universo, acredita o índio. E disse Deus: façamos o homem à nossa imagem conforme a nossa semelhança, segue o pastor. Apareceu o ser humano em forma de redemoinho, reza o índio. No fundo, não seria o mesmo? O mito é o Gênesis da Bíblia na cultura indígena. Isso explica tudo, disse Genézio Savassa, padre salesiano. Mas nem toda pregação é assim tão flexível. Dançar eu posso, mas pra Jesus, disse Ana Ribeiro, índia wanana. Índios num batismo em massa nas águas do Rio Negro. Os pastores dizem que é um ato de renúncia. E muitas vezes de adesão irrestrita a um novo conceito de Deus. Você tem que ensinar, que eles não conhecem o que está escrito na palavra, que tem um Deus que criou eles, que não é Deus Sol, que não é Deus Lua, que é um Deus que está escrito na bíblia, diz Wellington da Silva Monteiro, pastor da Assembléia de Deus. Deus é a natureza, são as árvores, a própria caça, a própria pescaria, acredita Domingos Sávio Barreto, índio tukano. Domingos acha que alguns evangélicos estão fazendo agora o que os católicos já fizeram antes. Nos ensinaram dizendo: o que vocês têm não presta, não serve, acredita ele. Ex-padre, domingos foi um dos alunos das imensas missões católicas inacreditavelmente construídas no meio da selva numa época em que acesso era muito mais difícil. A partir de 1914, quando começaram a chegar aqui, os padres salesianos foram proibindo tudo: malocas coletivas, rituais, línguas. Disseram que a nossa cultura era do demônio, Damásio Azevedo, índio tukano. A nudez dos índios era considerada obscena. Horácio, como todos os de sua aldeia, também chegou nu ao colégio há mais de 50 anos. Mas os padres o transformaram no primeiro alfaiate indígena da Amazônia. Fomos nós mesmo que vestimos os índios de Iauaretê, disse o alfaiate Horácio Moreira. Durante quase um século os ritos romanos da igreja tomaram o lugar dos mitos ancestrais. A obsessão católica da conversão dos selvagens foi diminuindo com o tempo. A ideia de que há almas pagãs vagando na floresta e de que elas precisam ser salvas a qualquer custo já não é mais aceita pela direção da Igreja. O novo chefe da diocese de São Gabriel da Cachoeira chegou aqui já com a fama de ser o bispo dos índios. A ordenação episcopal foi uma festa indígena. O gaúcho Edson Damian foi benzido e ganhou um cocar. Rezou a primeira missa numa igreja em forma de maloca. E veio disposto a rever o conceito de conversão. São os índios que estão vivendo como viviam os primeiros cristãos que tinham tudo em comum, nós é que temos que nos converter a eles, disse Dom Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira. Para ele, é papel da igreja defender os direitos dos índios. O índio sem terra é o índio que perdeu toda a sua referência cultural e religiosa, acredita Dom Edson. Dom Edson não está sozinho. Há entre os evangélicos, quem busque conciliar transcendência e vida concreta. A cultura só tem valor quando tem vida. Se não tiver vida, não tem valor a cultura. Então alguém precisa cuidar da saúde do índio, da vida do índio, do bem estar social do índio, disse Celânio Benjamim da Silva, pastor da Assembléia de Deus. O esforço ecumênico de salvar a alma sem acabar com a tradição. Para que o evangelho possa entrar no coração desses povos sem destruir os valores que eles já trazem, a cultura maravilhosa que eles conservam até hoje, disse dom Edson.