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Oracion al remanso (Jorge Fandermole) – chamamé, Argentina Em 2012, reencontramos o Renato para mais um show. Na adrenalina e concentração do camarim, pouco antes do início do espetáculo, o papo caiu na música latino-americana novamente. Contamos a ele da nossa viagem e da surpresa com a profundidade deste repertório, que é tão pouco conhecido no Brasil. Lembramos mais uma vez da Julia Florida e o Renato, revelando que sempre adorou cantar em espanhol, deu a ideia de fazer um disco, em parceria, dedicado a músicas de toda América Latina. A partir deste momento, o projeto foi tomando forma em nossas conversas e encontros. Nos permitimos mergulhar na poesia popular latino-americana e nos deixamos levar pela intensidade das suas letras e pela diversidade das suas síncopes e melodias. E o repertório foi sendo definido. Naturalmente a Julia Florida foi a primeira escolhida. Depois de alguns meses de trabalho, preparação dos arranjos e ensaios, resolvemos quase num impulso fazer as malas e ir gravar no Peru, para que o clima limenho acabasse de temperar a nossa música. Vivemos uma semana intensa de gravações e, entre piscos e ceviches, deixamos acontecer os imprevistos maravilhosos que a música permite… Em um dos últimos ensaios antes da gravação começar, ainda buscávamos a melhor impostação para tocarmos Vuelvo Al Sur, clássico de Astor Piazzolla. Procurávamos uma conexão entre essa música e o Brasil, uma vez que iria ser impossível para nós fazê-la soar em seu idiomatismo portenho original. Foi quando, numa pausa para um cafezinho, escutamos o Mauricio tocando uma peça que compusera havia alguns anos, em uma sala de aeroporto, a Milonga da Espera. As duas peças se fundiram perfeitamente, como se a milonga tivesse sido composta para nos abrir as portas musicais do Piazzolla. Já a gravação da Oración Del Remanso trouxe para Renato reminiscências de seus antepassados guaranis. Tínhamos planejado que esta canção seria acompanhada apenas pelo Sergio, mas justamente neste último ensaio o Mauricio começou a tocar junto e o resultado ficou sensacional. Assim, de forma meio improvisada, surgiu este encontro entre os dois violonistas que estavam sendo parte de uma nova transição no Maogani. Sergio estava voltando ao grupo que tinha deixado havia 14 anos, ao mesmo tempo em que a afinidade musical com Mauricio e a generosidade deste deixaram aberta a possibilidade de termos todos tocando juntos. Não por acaso, o disco tem algumas faixas em que o Maogani se transforma em um quinteto de violões. O disco também permitiu a gravação de Canela, um festejo de José Villalobos, em um arranjo que o Sergio tinha feito antes de sua mudança para o Peru, em 1999, e que nunca tínhamos tocado. E de um maravilhoso presente que ganhamos no encontro com nossos amigos colombianos: um arranjo especialmente escrito para nós pelo grande violonista Carlos Guzmán para o Bambuco em Si Menor, de Adolfo Mejia. A viagem a Lima trouxe surpresas até o último dia. Na noite antes da última sessão de gravações, decidimos sair para escutar um pouco de música peruana. Na peña “La Oficina” nos encantamos com a expressividade única da voz de Rosa Guzmán e imediatamente decidimos convidá-la a participar do disco, na faixa Lamento Esclavo, de Eliseo Grenet. Nosso roteiro musical saiu do Brasil, e passou por Argentina, Chile, Paraguai, Peru, Colômbia, Venezuela e Cuba. Como em uma viagem, é apenas um dos milhares de caminhos possíveis. Desejamos que todos possam desfrutar deste encontro e que nós mesmos possamos ainda conhecer outros cantos por descobrir deste imenso continente musical.